Arte contemporânea - Arthur Bispo do Rosário


Arthur Bispo do Rosario










Artista sergipano (1909-1989). Pobre, negro, poeta, Bispo foi, certo dia, encontrado vagando numa praia carioca e levado para um hospital psiquiátrico (Colônia Juliano Moreira – Rio de Janeiro), onde viveu internado por 50 anos, como esquizofrênico paranóide, em seu surto, recebeu a missão de recriar o universo para apresentar a Deus no dia do Juízo Final.
Em suas imagens revela símbolos que se relacionam aos relatos que fazia sobre sua vida, marcos de uma experiência profunda sofrida. O artista dizia ter sido marinheiro, pugilista, jardineiro. Um dia teve uma visão arrebatadora que o acompanharia até a morte e direcionaria sua produção artística. Ele dizia ter recebido de Deus, a missão de relatar no céu a vida na terra. Essa missão tornar-se-ia o motivo de sua existência na arte.
Recolheu objetos dos restos da sociedade de consumo como forma de registrar o cotidiano dos indivíduos, preparou esses objetos com preocupações estéticas, onde percebemos características dos conceitos das vanguardas artísticas e das produções elaboradas a partir de 1960.
Utiliza a palavra como elemento pulsante. Ao recorrer a essa linguagem manipula signos e brinca com a construção de discursos, fragmenta a comunicação em códigos privados. Inserido em um contexto excludente, Bispo dribla as instituições todo tempo. A instituição manicomial se recusando a receber tratamentos médicos e dela retirando subsídios para elaborar sua obra, e Museus, quando sendo marginalizado e excluído é consagrado como referência da Arte Contemporânea brasileira.
Dizia-se um escolhido do todo-poderoso, encarregado de reproduzir o mundo em miniaturas. Eram suas “representações”, afirmava. Paradoxalmente, as obras, que deveriam representar tudo o que havia na Terra acabariam reconhecidas como peças de vanguarda, incluídas por críticos em importantes movimentos artísticos. Sua arte genial chegou a representar o Brasil na prestigiada Bienal de Veneza, além de correr museus pelo mundo, a exemplo do Jeu de Paume, em Paris. Curiosamente, em vida, Bispo recusava o rótulo de “artista”, dado o caráter divino de sua tarefa. Mas a potência de sua obra ignora limites e até hoje atravessa fronteiras, transgredindo convenções e levando espectadores de todo o mundo ao encantamento.
"No início, eu arrancava a linha da minha roupa para fazer meu bordado. A cada dia meus trabalhos ficavam mais bonitos e a cada dia minhas roupas ficavam menores. Por isso, costuro principalmente em azul. Azul não é a cor de minha expressão. Azul é a cor das calças e da roupa de cama dadas aos pacientes. internos. malucos. prisioneiros na Colônia Juliano Moreira, e era a única linha que eu tinha antes que eles começassem a chamar a minha organização do mundo de "arte" e as pessoas começassem a me trazer sucata e outros itens de utilidade.
Às vezes eu costurava tanto, as idéias vindo tão rápido, que no fim sobrava apenas uma manga de camisa. Eu a usava lá fora, para perambular com os outros pacientes nus, que arrancavam as roupas porque pensavam que fossem camisas-de-força. abelhas. zumbindo .fogo. Levava horas até o pessoal vir me apanhar. Levaram anos para perceber que eu andava nu somente por necessidade do meu trabalho, que se eu tivesse materiais amplos e apropriados, de boa vontade conservaria minhas roupas de cama.
Aqueles foram os dias mais lindos, escondido atrás das plantas abandonadas do jardim, deitado com pedrinhas colocadas ao redor da minha cabeça como auréola, no pátio não varrido com o calor do sol do Rio no meu pênis e na minha barriga".

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